quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Theobaldo Hagedorn, 60 anos de marcenaria em Jaraguá do Sul

Theobaldo Hagedorn, embora tenha aprendido seu ofício com o pai, Gustav (que tem sua biografia trata em outra parte neste trabalho), e já ter inclusive construído móveis sozinho, aos 14 anos, inicia suas atividades oficialmente, como Aprendiz de Marceneiro, em 03/01/1944 (aos 18 anos), na Marcenaria Lessmann Ltda., de Lessmann & Hagedorn, na Estrada Nova – atual Venâncio da Silva Porto, onde permanece até 28/12/1946.
Em 07/07/1948 é admitido na Marcenaria de Eugênio Fritsch, em Mafra/SC. Casa-se pela primeira vez em 1948. Em 1949 passa a trabalhar na Marcenaria de Volker Voltrahth, em Canoinhas/SC. Segue-se a Marcenaria de Henrique Voigt, também em Canoinhas/SC retornando ainda em 1949 para Riedtmann &Hagedorn, onde permanece até 01/04/1955.

Em 1953 separa-se de seu primeiro matrimonio. Trabalha então informalmente entre 1955 até o final de 1956 na Marcenaria de Camilo Andreatta, na Barra do Rio Cerro. Esta marcenaria era localizada ao lado da Farmácia Galeno, em frente à capela de São Marcos. Ali conhece sua segunda e definitiva companheira, Cecília Zatelli.

Inicia então suas atividades em marcenaria própria, localizada nos fundos do atual número 533 da Venâncio da Silva Porto. Era a marcenaria de Theobaldo Hagedorn Ltda. Esta funciona de forma ininterrupta até a sua aposentadoria em 01/05/1959 (aos 53 anos), com trinta e cinco anos de serviços prestados.

Em 1974 fecha a antiga empresa Marcenaria Theobaldo Hagedorn Ltda. e reabre em 01/09/1975 sob a denominação fantasia de Móveis Itaypu de Theobaldo Hagedorn.

Após sua aposentadoria continua trabalhando e dirigindo sua pequena marcenaria, até 1997, quando então, decide parar definitivamente com suas atividades oficiais, com a aposentadoria de seu último funcionário Alvin Oeschler (que havia sido seu funcionário pelos últimos 22 anos de atividade). O outro funcionário, Reinoldt Schmidt, havia sido seu empregado entre 1977 e 1981. Ambos já são falecidos. Foram mais que marceneiros, foram parceiros de trabalho e de suas atividades sociais.

Theobaldo Hagedorn, embora tenha oficialmente encerrado suas atividades, manteve sua marcenaria montada até a data de seu falecimento em 2004. E sempre que possível continuava a fazer algumas peças, como por exemplo a pia batismal da comunidade Evangélica Luterana Apóstolo Paulo, na Vila Lenzi. Portanto pode-se afirmar com segurança que foram 60 anos de atividade altamente produtiva, deixando seus móveis espalhados por toda a cidade, e por outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, etc.

A Memória dos Marceneiros jaraguaenses

As pequenas marcenarias eram responsáveis pela produção de uma gama de produtos necessários no dia-a-dia de qualquer cidade. Desde o período colonial da cidade até a década de 1970, podiam produzir desde os caixões funerários, até mesas, cadeiras, armários de cozinha e copa, guarda-roupas, cômodas, bancos coloniais e bancos de igrejas, bancadas de marceneiros a até mesmo máquinas e equipamentos que embora rudimentares, eram muito funcionais, e pasmem, com a maior parte das peças produzidas em madeira (Engrenagens, rosca sem fim, etc.).

Com o advento das indústrias na cidade, especialmente com as fundições, responsáveis pelas carcaças dos motores elétricos, por exemplo, os pré-moldes que eram utilizados na moldagem das peças de então, antes da moldagem definitiva em areia para fundição, eram produzidos em madeira. Bons marceneiros eram requisitados nesta época. A Marcenaria de Theobaldo Hagedorn Ltda., durante estes primórdios, foi durante muito tempo quem produziu estes tais pré-moldes em madeira. O maior cliente era a então ainda novel Eletromotores Jaraguá Ltda. (atual WEG S.A.). Na cidade, um dos mais antigos fabricantes de máquinas para marcenaria em madeira, foi o Sr. Vasel e um dos exemplares desse equipamento – uma serra fita – foi doada pelo autor ao Museu WEG, após a exposição havida neste espaço em maio de 2009.

Breve trajetória da Marcenaria em Jaraguá do Sul

Nas décadas de 1940/50/60 do século passado, durante o assim chamado boom da marcenaria em Jaraguá do Sul, chegamos a ter pelo menos umas 13 boas marcenarias na cidade. Havia as marcenarias de Lauro Putjer, do Raimer, do Pradi, do Leopoldo Silva, do Andreatta (que também fabrica carroças), do Valdir Rubini, do Lessmann, do Riedtmann (que virou fábrica de escalametros (metros móveis de um e dois metros de comprimento e metro fixos, ditas varas de medir utilizadas na lojas de tecidos em metro e níves de madeira em 19...), do Vasel (que também fabricava Serra fitas, Tupias, Serras circulares além de grampos para marceneiro, etc.), do Grahl, do Rincaweski, do Tribess e do Theobaldo já citado acima, só para citar algumas.
Até o final desse período, os estilos construtivos da marcenaria ainda eram reflexo do estilo art dèco, com móveis de cantos arredondados e um visual inconfundível, para qualquer um que tenha em sua casa os móveis de quarto realizados por qualquer um desses marceneiros. Podemos até dizer que até década de 50 havia uma grande quantidade de móveis fabricados no estilo colonial, seguido daqueles ditos mais modernos então: o Luís XV!
Na década de 70, iniciou-se uma nova organização do trabalho para o formato industrial, com produção em série, inicialmente com a introdução das Cozinhas Americanas, ainda utilizando madeira como a base, quando muito com compensados (de 5 a 8 mm) e chapas de aglomerado (serragem prensada de cerca de 15 a 25 mm). Os marceneiros em geral ainda eram muito reticentes com esses novos materiais. Estas chapas eram recobertas de um novo produto introduzido naquela década e chamado comercialmente de Fórmica. Tratava-se de um material altamente resistente, inclusive ao fogo, conforme apregoada o fabricante. As cores chegaram à marcenaria.
Adeus, móveis monocromáticos. Estava iniciado o processo de fabricação de móveis em série e a custos muito inferiores aos até então praticados. Adeus, móveis personalizados. Bem vindos os móveis vendidos em lojas apropriadas. Com esta modificação no mercado as pequenas marcenarias, que lidavam com madeira de fato já escasseando cada vez mais, tornaram-se lentamente inviáveis. Ou cresceriam, tornando-se componentes do novo mercado. Ou fechavam! Os velhos taillers ou cristaleiras, como eram chamados, foram sendo substituídos pelos armários de ângulos retos e presos à parede, com portas geminadas entre si. As velhas mesas com tampos de Canela e pés da mesma madeira passaram a ser fabricadas com tampos de aglomerado recoberto com fórmica e pés de ferro.
A partir da década de 1980/90 entra em cena o MDF, e as prensagens a quente e finalmente algumas pequenas marcenarias se transformam em grandes empreendimentos industriais, e recebem novos modelos e desenhos, as madeiras nobres, cada vez mais raras, acabam sendo substituídas por outros materiais. É o fim definitivo dos pequenos grandes marceneiros em Jaraguá do Sul. É o fim de uma era romântica, em que as pequenas marcenarias de Jaraguá do Sul tiveram um papel preponderante em sua História pré-industrial!

Nenhum comentário: